domingo, 13 de setembro de 2009

Para aprender, lições.


Durante alguma etapa, o processo de aprendizagem vai impelir o aprendiz a alguns momentos de solidão.


Duas observações, antes de prosseguir. Não estou me referindo especificamente à aprendizagem de conteúdos formais, escolares; a reflexão até se aplica a estes conteúdos, mas vai muito mais além. Outra coisa: em uma era tão conectada (celular, e-mail, sms, msn, trezentos sites de relacionamento, oi tudo bem, vamos?, você tem que ir, tem que fazer, não pode perder!), a palavra solidão assusta. Já fui surpreendida várias vezes por gente que se assusta com fulano, que vez por outra, almoça sozinho. Ou então, de vez em quando alguém não entende muito bem que beltrano desligou o celular, ou demorou uma semana para responder um e-mail pessoal. Permanecer sozinho durante alguns momentos, sem a distração da televisão ou subterfúgio do celular (ícone maior do hipercontato), é, além de fundamental para ouvir e entender o próprio silêncio (o quê em mim cala fundo?, o quê fala muito? nossa estou tão tensa, ou tão tranquila, ou tão agitada ou tão o quê mesmo?), necessário para aprender sobre si.


Voltamos, então, à vaca fria. Com exceção dos casos de puro autodidatismo, a percepção de que precisamos (ou queremos) aprender alguma coisa, geralmente, se dá no contato com os outros, ou com situações externas - que são, na verdade, outros fantasiados de situações. Você tomou um chopp, foi na terapia, na astróloga, na aula de ioga, na aula de canais de distribuição, no cinema, no jogo de futebol, no aniversário da sua tia, conversou com seu chefe, fez uma merda no trabalho, ou então alguém fez algo muito bom, ficou com ele, está namorando com ela, discutiu com um amigo, conversou com o amigo do amigo, leu no jornal e pronto! Acho que eu podia aprender a ser mais, a ser menos, a tentar isso, mudar aquilo. Você se expôs ao conteúdo que quer aprender.


Em todos os casos, se você decidiu que quer aprender aquilo, é porque já está preparado. Do contrário, a oportunidade teria passado diante de você e nem notaria. Tem coisa fácil, é só olhar e adotar, mas tem coisa que requer mais esforço, mais elaboração, alguma repetição e muita força para se sustentar na posição do aprendiz que não abandona sua meta. E é aí que entram os tais momentos de solidão. Esses momentos são fundamentais para (re)avaliar a estratégia de aprendizado, nem que sejam cinco minutos antes de dormir, durante os inevitáveis engarrafamentos, ou na hora do banho. Cada um sabe de si!


Agora mesmo, me encontro diante de um aprendizado que me requer esforço. Estou na fase da repetição (na escola, isso chama dever de casa, homework, chez toi). Já entendi como faz, mas ainda não é natural, tenho que fazer e pensar que estou fazendo, exercitar. Em alguns momentos, inclusive, fico até menos exposta de propósito, respeitando o tempo necessário que meu corpo precisa para aprender a sustentar dois caminhos paralelos, ambos necessários, que só lá na frente vão se encontrar.


Essa fase do exercício, que pode até conter alguns momentos de parceria, deve, necessariamente, ser sustentada internamente, na solidão, mesmo que com a casa cheia, ou na praia com os amigos.


Quando, depois de muito exercício, e alguma elasticidade subjetiva, o aprendizado tiver se transformado em conquista (deixou de ser um gadget e passou a ser standard, tipo câmera fotográfica em celular, para continuar na esfera das metáforas tecnológicas), o aprendiz poderá, novamente, relaxar um pouco e, então, será possível compartilhar a experiência, até, quem sabe, assumir uma postura de maestria.


[CONTINUA]


SETEMBRO/2009

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